sexta-feira, 6 de abril de 2012

Do passado...


As histórias por trás daquilo que vamos encontrando. As tradições que se perdem. A resposta dos porquês das minhas mudanças, e de um inesperado acento provocado pela vontade de entrar no mundo da costura e recuperar técnicas antigas, daquilo que se faz e que fica para quem gosta, e para quem estima, mas usa.

De três irmãs sou a mais nova. Pela ordem da razão fiquei para o fim no que diz respeito à elaboração do enchoval. Há uma altura em que isso nem nos diz nada, mas não foi assim tão tarde que tive curiosidade para ver o que tinha sobrado das coisas da avó materna. Esta minha avó fazia tudo, mas tudo à mão, e fez muitos lençóis com técnicas que nem sei o nome. Lençóis com bainhas abertas, meias a 6 agulhas, toalhas de renda, toalhas com linhas muito finas, toalhas de mesa com vários tipos de pontos e guardanapos a condizer, mas muitas mesmo. Recuperei algumas com a ajuda da D.Gracinda, pois mesmo as que nunca tinham sido usadas de terem ficado fechadas anos e anos nas arcas ficaram com manchas, depois de ficarem "à cora" estão lindas. As arcas são mais vezes arejadas e volta e meia rodo o uso para irem sendo lavadas e serem mostradas. No entanto quando arejamos tudo o que existe soltam-se sempre histórias míticas, ou verdadeiras sobre vidas, maneiras de trabalhar, a vida social que existia, as relações com a família, os amores, os desamores; e parecendo que não demora tempo.

Se recebermos amigos em casa podemos ter medo de por a uso aquilo que tanto estimamos, mas se assim for nunca se vai usar uma coisa que se gosta. Eu gosto de coisas do antigamente e o meu gosto pela costura e pelas agulhas pode, ou não, ser uma herança das minhas avós.

Ao reviver alguns momentos lembrei-me do filme " How to make an American Quilt" que nos fala da arte de construir um "Quilt" e das histórias que cada parte que o constitui pode trazer. A costura junta gerações e as diferenças fazem-nos ver as coisas de diferentes expectativas e vivências. Quem acha que as velhinhas, que parecem mais velhas do que são " O trabalho não era brincadeira" (dizem) não têm conversas divertidas e que passar uma tarde com um grupo nestas artes não é nada de especial, desengane-se. Ensinar só vendo porque nem elas aprenderam o nome dos pontos, pedem a "amostra" e copiam quase por instinto. E é assim que no meu dia a dia vou aprendendo, e garanto que o giro de aprender alguma coisa com uma pessoa mais velha vale pelas histórias. E se estamos ali para aprender e temos tempo para isso também temos tempo para ouvir.

Participar de workshops de costura ou que seja, ou fazer parte de um grupo de "corte e costura", pode ser divertido e diferente.

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