sexta-feira, 27 de novembro de 2015

Esta história é minha... mas alguém se identifica ?!

Esta história é minha, é igual a tantas outras, mas por me ter marcado e continuar a marcar vai ser contada por partes, ou de enxurrada... acho que vai ser bom para alguns ler...

Antes do dia: 
Casei-me, um ano depois soubemos que a minha mãe tinha um cancro de mama, na altura mau, mas que se ia tratar e ficar boa (não havia outro pensamento). Dois anos depois de ter casado mudei de local de trabalho para ver se arranjava tempo para ser mãe, começamos a ver que estava a demorar demais, estudamos o nosso caso, tinha e tenho SOP (como tantas outras mulheres)  não impede uma mulher de engravidar, mas dificulta e muito a vida. Ciclos irregulares e por aí a fora. Entretanto ouve-se mais vezes do que se deseja a famosa frase: "Então e para quando o bebé?!", ainda era cedo, e tinha 31 anos por isso não havia pressas. Ainda pensámos em seguir para tratamentos mais complexos, mas na vida as coisas estavam-se a complicar... A minha mãe estava pior, o cancro já estava nas duas mamas, já existiam metástases e não se adivinhavam dias melhores. Em 2012 comecei o mestrado em cuidados paliativos (trabalhava e trabalho nessa área desde 2008) em Lisboa, e por isso todos os meses ia a Lisboa (quando não ia mais) e estava com os meus pais e conversava muito com a minha mãe sobre tudo, sobre como poderia ser a sua morte, falávamos abertamente... Como podem ver nesta altura queria lá eu saber de engravidar, percebo agora a necessidade de centralizar as minhas energias nesta fase ao invés de ter outras coisas em que pensar.... No meio de muitas conversas, a minha mãe disse-me "vais ter um filho, mas não penses que vais ter mais e quando menos esperares ele aparece, ele aparece..." 
A minha mãe passou o último Verão de 2013 connosco, aqui no Alentejo.

A meio:
O ano de 2014 foi um ano de muitas adaptações, mudanças radicais na família, a busca dos nossos próprios alicerces e dos sinais que esperávamos receber lá de cima. Encontrar o nosso lugar no mundo quando existe uma elo de ligação que desaparece, por vezes pode ser confuso e fazer-nos perceber que a vida é demasiado efémera para andarmos com tretas e "paparmos grupos", mas é um desafio e a vida tem destas coisas. Para mim, a minha experiência profissional e a doença e morte da minha mãe ensinaram-me uma coisa, não há conveniências, não vou fazer porque fica mal ou parece bem. Bom bom é fazermos aquilo que nos faz feliz, amar e ser amada, ser boa amiga e ter bons amigos. Apesar de dar muito de mim, é a minha maneira de ser, cresci, fui preparada para isso...

O dia:
Dia 13 de Março de 2015 fiz greve dos enfermeiros ( e o que é que vocês têm a ver com isso?... nada é apenas para me localizar). A partir daqui tive uma gravidez, com muitas dúvidas, será? É que tive quatro anos a pensar que não ia conseguir e a mudar as prioridades, a arranjar meios de me distrair, a aprender a fazer coisas que agora adoro. Continuava com o teste na mão a pensar, será?? Não.... é treta. Dias mais tarde ameaça de aborto.... lá está os testes dão falsos positivos e isto é tudo treta... peço ajuda meio confusa, e agora??? Não estava preparada para ficar grávida!!(ironicamente penso que gostava, mas nunca pensei que fosse a sério ). Fiz análises para ver se estava, mas fiz um erro, fiz a análise quantitativa, ou seja aquela que se faz normalmente quando se fazem tratamentos para engravidar. Devia ter feito a qualitativa, ou seja... ou estava ou não estava, ponto. Para mim bastava, e esperava mais uns dias (que pareciam semanas/meses) para a consulta com o médico.

1º O facto de fazer análise quantitativa, ter perdas e andar um pouco a vaguear nos meus pensamentos fez-me entrar em pânico, sim, em pânico mesmo. Logo na primeira vez que fiz análises tive falta de ar, taquicárdia e subida de tensão, ou seja, com aquela sensação que ia morrer (é isto que é uma crise de ansiedade), e infelizmente as pessoas à nossa volta não estão preparadas e não percebem. 

2º Com as perdas e o facto de sentir necessidade urgente de saber o que se passava fui ao hospital aqui perto e fui fazer uma ecografia pela porta do cavalo. Ecógrafo espectacular via-se bem a gravidez e tinha, xarammmm, um mioma. (para mim era tudo grave, eu nunca jamais iria engravidar ok?!)

3º Passados uns dias, stress total, consulta nunca mais era (era na semana a seguir, mais uns cinco dias) vou a Lisboa (porque em Lisboa é que é bom....) a um hospital xpto e afinal não se via nada no ecógrafo, havia muitas dúvidas se estaria grávida, e com aquelas perdas... nááá!! Quiseram-me, curiosamente apontar logo um teste, que se chama Harmony test que custa 500 euros aproximadamente, e vim de regresso para o Alentejo a pensar, para quê tanta treta se a médica tinha ficado cheia de dúvidas.... Até à consulta fiquei em repouso na caminha por minha iniciativa e indicação de sabedores, mal não faria.

Finalmente a consulta com o meu médico (obrigada Dr Bruno por tanto me aturar). Afinal estava grávida, poucas semanas, e com descolamento de placenta, mas estava. Passou-me análises, as primeiras de rotina.... então e agora quem é que me dizia que ir ao sítio onde tive a primeira crise de ansiedade ia ser fácil?! Ao pé duma gaiata pequena era pior, chorar e voltar a ficar com aquelas sensações... Valeu-me a paciência e calma do marido (única pessoa que eu queria que andasse comigo para trás e para diante)... mas ok, fui fazer as análises, e agora atenção!!! Erro nº 1 num meio pequeno não se deve fazer análises na hora de ponta, isto porque é difícil manter segredo do que quer que seja... eu a mudar de cor em stress acompanhada pelo marido, a técnica de análises (prezo a sua paciência para comigo) a entrar em stress porque sabia o que tinha acontecido da última vez, com as pessoas suficientes na sala de espera e a ter de justificar a minha passagem à frente "Esta senhora vai passar à frente, tem prioridade porque está grávida!", PRONTO....ACABOU-SE O SIGILO DE UMA GRAVIDEZ DE 7 SEMANAS.... é que como TODOS SABEM, qualquer gravidez pode ter percalços, ainda mais nas primeiras 12 semanas. Não penalizo a técnica que tanto prezo, mas sim a cambada de cuscas que mais nada têm a fazer do que falar na vida alheia. A sério.... tem dias que o saber que alguém traiu, ou se separou, ou se divorciou, ou que perdeu o bebé, ou que está muito mal é motivo para .... nem sei para quê (será que é motivo para festejar?), mas adiante... Tinha de manter a calma, não foi fácil, não está a ser fácil... pensei em contratar um advogado para processar uma pessoa por se meter na minha vida, será que dava? Dava trabalho e se não tivesse grávida até seria engraçado, apesar de perder dinheiro, mas e no futuro, será que a pessoa me deixava em paz?? Seria uma atitude radical?? Já vi pessoas processarem outras por muito menos ;) (estou a exagerar de propósito ok?)

A continuação: Adiante... fiquei até às 24 semanas quieta aqui na minha casinha, não queria saber de comprar nada, nem roupas, nada... tive sempre muitos medos, e ainda tenho agora às 35 semanas... a frase que o meu marido mais ouviu e continua a ouvir é "vai correr tudo bem, não vai?". Não sei se este medo é normal por achar que não conseguiria engravidar normalmente (veio em boa hora), ou se sou eu mesma que sou neurótica, a razão pelo qual partilho esta passagem na minha vida tem dois propósitos, primeiro de certeza que não sou a única, segundo, acho que a partilha permite-nos viver melhor os nossos medos e ultrapassá-los...

(Este texto alonga-se e já deitei a chiquitita na alcofa algumas vezes... vou dividir esta saga, até já)


2 comentários:

  1. Um forte abraco amiga Marta! Tenho muitas saudades tuas! De rir-mos às gargalhadas e com cumplicidade!beijos

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